Respondendo Comentário: Onde está o racismo?

Normalmente não faço isso, de responder comentários com um post. Confesso que as vezes, não respondo comentários de forma alguma. E isso entra para lista dos motivos pelos quais o Negão Internauta ainda não vingou. Mas desta vez a resposta fez-se necessário, pois, apesar de ser apenas um comentário, representa outros vários que recebo semanalmente, principalmente no post sobre o caso Danilo Gentili, onde, inclusive, o comentário abaixo foi feito.

Eu entendi! Tudo aqui é só para dizer que não gostaram da piada do Gentili, pois não há nada de racista nela. Sei que logo abaixo haverá posts me criticando, mas não posso fazer nada, pois preciso conversar aqui como único meio de melhorar a reflexão que tem sido feita.
"Negão Internauta", entendi o que você disse e, para falar a verdade, nem considero o que o Danilo falou como uma piada. Gosto muito mais dos textos que publica em seu blog que de suas "twitadas". Bom, de qualquer jeito, todos adimitimos já que a piada do Danilo não tinha nada de racista. Certo? Porém, ao ser acusado de racismo - por pessoas que não entenderam a piada, pois chegamos à conclusão que ela não é racista - ele se defendeu falando algo que, aí sim, envolve a raça negra e o xingamento de macaco. Sobre esse ponto que está sendo criticado, não é? Então está certo, prossigamos. Eu gostaria de inverter a situação agora e pedir, então, para o senhor que falasse sobre alguns pontos que escolhi:

1) Sem querer ser leviano, gostaria que justificasse o motivo pelo qual o senhor considera que há uma lei que criminaliza brincadeiras com negros e não se importa com brincadeiras com outras condições.

2) Que o senhor respondesse à ponderação feita pelo próprio Gentili de que, se todos somos iguais, porque alguns grupos se unem, como se fossem uma classe separada?

3) Que me dissesse situações reais de racismo e discriminação, pois, para ser sincero, nunca presenciei uma. Sobre este ponto permito-me ser mais extenso, pois é importante. A única situação negativa que vejo acometer efetivamente os negros é devido a ocuparem classes inferiores economica e socialmente. No entanto, este é um problem estrutural, que não envolve racismo ou preconceito, pois ambos dependem de uma ação de um ser humano, enquanto, como disse, a situação desfavorável é um problema estrutural. Assim, nunca vi durante minha vida uma situação em que um negro sofresse só por ser negro algum tipo de discriminação. Talvez só tenha conhecido até hoje lugares civilizados desse país, mas saibam que já viajei muito Brasil afora. E nada. Já vi, por outro lado, nos Estados Unidos, mas o caso aqui é Brasil.

Por fim, gostaria de ressaltar que o senhor, embora coerente em muitos aspectos, está sendo bastante leviano com alguns posts, desprezando-os e desconsiderando, sem argumentar de maneira adequado. É óbvio que tens este direito, porém, se estás a tentar pensar de maneira racional deve ser coerente e responder racionalmente os posts, sem simplesmente negligenciá-los e desprezá-los com piadas. Eu tenho vários amigos negros que brincam comigo chamando-me de vários nomes. Também brinco com eles, mas tenho receio de fazê-lo em público. Diga-me, é justo sentir este receio, ou é justo apenas eu ser alvo de brincadeiras, ou mais ainda, o senhor acha que deveríamos abolir então as brincadeiras, pois afinal alguém sempre vai para a berlinda?

Muito obrigado pela atenção!

Abraços!

- Diego, do Blog do Diego.

Pois bem, vamos direto ao assunto.

1) Sobre as leis.

Existem diversas leis que protegem grupos. Leis que protegem índios, leis que protegem homossexuais, leis que protegem portadores de deficiência, leis que protegem crianças e adolescentes e ainda leis que protegem mulheres. Esse tipo de lei faz-se necessária para preservar determinado grupo de eventos socialmente inaceitáveis. Um cadeirante não pode ficar sem acesso ao lugar algum apenas devido à sua condição. Uma mulher não pode sofrer agressão apenas por ser fisicamente mais frágil e assim por diante.

Por anos, negros foram excluídos da sociedade por serem simplesmente negros. A aceitação desse fato, por meio de cultura popular, sejam por ofensas, discriminação ou mesmo piadas é socialmente inaceitável. Logo, surgiram leis para preservar a cidadania deste grupo. Leis essas que não sobrepõe os direitos de outros grupos ou agregam diretos à esse grupo. Apenas reforçam um direito civil.

2) Porque a separação de classes.

À fim de evidenciar os problemas que determinado grupo frequentemente enfrentam, esse grupo se reúne em associações, ONGs e afins, com o objetivo de exigir que seja dada uma atenção especial a determinada situação. A organização popular é um direito licito, constitucional e ocorre em diversas frentes. Seja o Movimento Estudantil, a Associação Comercial e Industrial de um município ou a ONG Sou Da Paz.

Esses movimentos não existem para separar ou descriminar as pessoas. Todos apenas lutam pelo o que é direito. Se executivos brancos encontrassem alguma barreira específica para exercer seus deveres e ter seus direitos garantidos, especificamente por serem executivos brancos, nada mais justo que se reúnam e lutem por eles.

3) Situações Reais de racismo e discriminação

Geralmente, ignoro-as, porque quando faço qualquer menção à isso, acontece o que aconteceu no post do Danilo Gentili. As pessoas acham que não é para tanto, que isso ou aquilo é inocente, que não prejudica ninguém. Aliás, acho que os comentários no post citado mostram claramente uma situação de preconceito. A maioria dos comentaristas só leram os títulos do post e do blog e concluíram que só poderia ser um tipo de argumentação, o que não é real.

Um caso de discriminação que aconteceu comigo e até hoje é motivo de conversa entre meus amigos. Na minha cidade, iniciou-se uma operação do tipo Força Tarefa, de combate ao tráfico de drogas. Foi ótimo, pois a cidade foi tomada por diversas viaturas, deixando-nos mais seguros e tranquilos.

O fato é que estávamos eu e outras sete pessoas, todos brancos, esperando o horário para uma partida de futebol. Todos carregavam suas bolsas com uniforme e afins, inclusive eu. Mas a minha ainda era da minha faculdade (Eng. Civil) pública. Uma viatura parou e o policial do volante nos perguntou o que fazíamos ali. Respondemos. O outro polícial desceu da viatura, veio direto até mim e pediu para revistar minha bolsa. Ao ver que só haviam livros e roupas, subiu na viatura novamente e foi embora. Alguns ali presentes respiraram aliviados, pois se revistassem suas bolsas, certamente encontrariam algo. Mas, por que só a minha bolsa? Será que um universitário com em frente à um campo de futebol, vestido para jogar bola, é um suspeito? Até hoje, custo a acreditar que foi por racismo, mas é bem suspeito.

Suspeito?

Naquela semana, fui revistado outras 4 vezes. Os meus amigos brancos, nenhuma.

Esse é só um dos exemplos.

O fato dos negros povoarem as classes inferiores da sociedade é sim um problema estrutural que se agrava com o preconceito e a discriminação. Antigamente, um branco que ocupava o mesmo cargo de um negro, com a mesma instrução, ganhava até 14x mais. Esses dados são do final do século passado. Atualmente, graças à políticas de inclusão e conscientização (talvez mais o segundo que o primeiro), esse parâmetro já mudou bastante.

Mas o que tenho notado, como tentei dizer no post do Danilo, é que o que antes era preconceito sem sentido e sem motivo, agora ganhou uma razão: negros são "chorões". A política de cotas (que é polêmica mesmo entre os negros, como pode-se ver no próprio debate na câmara), as ações afirmativas (importadas dos EUA) e alguns casos onde negros exigiram seus direitos soaram para muitos como oportunismo. Como se os negros aproveitassem de sua condição para ter vantagem sobre os demais. Mas os negros que exigem seus direitos diante à uma situação discriminatória são pouquíssimos. Eu mesmo, nunca nem cogitei a idéia. Se dentre esses existem aqueles que querem tirar vantagem, é uma minoria absoluta, que não serve para representar todo a classe. Aliás, ninguém serve para representar toda a "classe".

Por fim, eu também sofro com o receio constante na hora de fazer alguma piada. Acho muito chato que as coisas andem tão tensas que não podemos nem rir da situação. Sabe a máxima "depois que passa a gente ri"? Pois pelo jeito ainda não passou...

PS: sobre os comentários, não é fácil discutir com quem já tirou suas conclusões, por isso ignorei sim muitos, sabendo que não vale a pena desprender energia e tempo com algo que sequer chegará ao interlocutor.